Uma paixão por essa uva e uma história rica de detalhes
nos levou a voltar a escrever e ativar novamente nosso blog, Além, claro, da
motivação e persistência do amigo e Jornalista Carlos Nealdo e o inconformismo
de nossa confraria devido ao nosso isolamento temporal do universo literário do
vinho. Bem, neste post iremos fazer uma viagem através da Europa mais ao
oriente, onde se iniciou a trajetória de uma casta ainda pouco apreciada por
nós brasileiros, contudo acredito ser apenas uma questão de tempo e
conhecimento.
Gewürztraminer
Nossa pequena história nos levará ao Tirol, esta antiga província do Império Austríaco,
dividida pelo Tratado de Saint-Germain-em-Laye. Podemos com certeza dizer que
esta região é uma parte germânica da Europa, mas não é Alemanha, já que ela
localiza-se entre a Áustria, Alemanha e Itália. Sua capital é a cidade
de Innsbruck, na parte principal do estado do NORDTIROL, ao sul
oriental. Temos ainda as outras divisões deste estado Austríaco, que são
SULDTIROL, OST-TIROL e TRENTINO, sendo esta mais ao norte, com grande
influência da Itália. No Tirol Austríaco, na
parte oriental dessa região, encontramos os conhecidos Alpes do Tirol, que é
ainda banhado pela Bacia superior do Rio Inn, cujo vale (onde se localiza
Innbruck) é o eixo principal da província. Essa parte da região tirolesa, que
ficou para a Áustria, mede cerca de 12.649 km2 e tem aproximadamente
594.000 habitantes. É separada da outra porção, a sudeste, em resultado
da perda da parte sul da região (Tirol Meridional), que é a
região dos Alpes Suíços.
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Mapa do Estado do Tirol |
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Sua bela Capital Innbruck - Inverno de 2010 |
Bem, Foi em
uma pequena vila de nome Tramin, na província Bolzano, República Italiana que a
Traminer – que significa "vinda de Tramin", uma
variedade de uva de pele verde e que por consequência de sua origem carregou
para si o nome da vila onde nasceu – que surgiu uma das cepas mais agradáveis
ao desenvolvimento de vinhos brancos do mundo, mesmo assim, para muito de nós brasileiros,
ainda é uma completa desconhecida, e traz um nome extremamente complicado de se
pronunciar. Contudo extraordinária, potente e deliciosa na construção de vinhos
brancos, bem como muito fácil de apaixonar-se.
A Gewürztraminer é uma linhagem que se adaptou muito bem ao frio, que talvez contribua para o seu rico buquê de lichia, alias a lichia compartilha com a Traminer o mesmo composto de aroma, podendo ainda traduzir aromas florais como rosas e flor de maracujá.
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Lichia |
Alguns estudiosos definem a Gewürztraminer como a cepa que gerou alguns clones naturais, tais
como a Savagnin Blanc. Todavia, devemos perceber que outras
correntes conectam seu genoma a Viogner do Vale do Rhone, que talvez seja
um parente mais distante de Sauvignon Blanc.
Dentro dessa analogia, temos que observar que o Tirol foi
e ainda é uma região encravada entre 03 países (Alemanha, Áustria e Itália),
que se atritaram muito ao longo dos séculos, uma região estratégica de linha de
frente que por milênios abrigou grandes batalhas. Provavelmente pelas razões
acima não seja surpreendente que suas vinhas tenham sido dizimadas. Tanto que o vinho obtido a partir de
traminer foi ser redescoberto na Alemanha, contudo com menor potencial
aromático. Na verdade a traminer, que a partir
do século XIX passou ser escrita de forma diferente, passou a se chamar Gewürztraminer em princípio na Alemanha. Depois, como
Gewurztraminer – sem o trema no “u“ – na França, ressurge
com todo seu potencial justamente na conturbada fronteira entre a Alemanha e a
França, na Alsácia-Lorena, hoje território Francês.
Bom, devo ainda referendar neste post que algumas
videiras Alemãs podem muito bem ser confundidas como a Traminer, como exemplo, podemos
citar a Savagnin Rose, que para muitos é conhecida como Red Traminer, ou também
chamada de Durbacher Clevner para uns e para outros, Durbacher Klevner", que é um sinónimo
Austríaco para Pinot Blanc.
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Durbacher Klevner, ainda guardando a identidade da Taminer. |
A LONGA JORNADA DA
TRAMINER...
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(Karl) Carlos
Frederico, grão-duque de Baden (Karlsruhe, 22 de novembro de 1728 — Karlsruhe, 10 de junho de 1811) foi o filho mais velho do
príncipe Frederico de Baden-Durlach e de Amália de Nassau-Dietz, a filha de João Guilherme Friso, Príncipe de Orange.
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A história diz que em 1780 o Grão-Duque de Baden Karl Friedrich (foto) trouxe sementes de um vinha da Chiavenna, na Itália, que fica no meio do caminho entre Tramin e
Jura. Jura é uma cadeia de montanhas que chegam a cumes de 1720 m de altitude, e estão situadas ao norte
dos Alpes, entre a França, Suíça e Alemanha.
Na França, ela cobre essencialmente a região Franche-Comté e se
estende pela região Rhône-Alpes, a leste do departamento de Ain e ao
noroeste do departamento da Saboia (chaîne
de l'Epinee dent du Chat)
que para os Alemães era conhecida como Cleven. (fonte: http://pt.wikipedia.org).
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Heiligenstein - Alsácia |
Cleven ou Klevener de Heiligenstein ou Heiligensteiner Klevener
encontra-se no entorno de Heiligenstein - Alsácia pode ter
representado um posto avançado das vinhas Durbach. Como só
há registros da Traminer a partir século XVI, são exatamente estes registros
que demonstram que ela se espalhou do baixo Reno para a Alsácia, por meio do Palatinado1. Acredito que nesta fase
deve ter havido o acréscimo da palavra
Gewürz (pimenta, ou picante) ao seu nome, presumivelmente quando ocorreu uma de
suas mutações. O nome Gewurztraminer foi usado pela primeira vez na Alsácia, em 1870 - sem o trema. Em nossa pesquisa não consegui encontrar uma
explicação clara para esta mudança de nome, nos parece que tudo foi uma
grande coincidência temporal, pois a mutação musqué aconteceu logo após a
chegada do grande epidemia da filoxera. Acredito
que esta mutação foi uma determinante na sobrevivência da espécie primitiva da
Traminer e também uma tentativa de criar um enxerto de filoxera resistentes a
grande epidemia de 1852, quando todo o continente Europeu teve que replantar
suas vinhas.
1Eleitorado
do Palatinato ou Condado Palatino do Reno (em alemão: Kurpfalz),
um Estado histórico do Sacro Império Romano-Germânico, incluindo:
Assim, com o passar dos anos, este veio a se tornar o
mais típico dos
vinhos da Alsácia. Como já falamos anteriormente, Gewürz significa "picante" em alemão. É a principal característica da
Gewurztraminer. Recapitulando ainda, a Gewurztraminer foi cultivada na Alsácia por
volta do final do século 18. Estas
cepas agora cobrem cerca de 20% dos vinhedos da região. Gewurztraminer também substituiu a uva
chamada Klevener ou Savagnin. Hoje
em dia os vinhos Klevener só podem ser encontrados na aldeia de Heiligenstein e
ao redor. Klevener produz um
vinho branco seco com leve sabor picante, mas bem menos aromáticos que Gewurztraminer.
Lembrando que este vinho tem melhor potencial quando bebido jovem.
Alsácia foi onde
a Gewürztraminer deu os melhores resultados, mas encontramos produção desta uva
em todos os continentes do planeta, inclusive na América do Sul, sendo plantada
no Chile, Argentina e também no Brasil. Produz sempre um vinho frutado, delicioso e com
aromas fortes, um buquê muito perfumado. Gewurztraminer
é mais doce que o Riesling, que é um
vinho branco mais seco.
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Uva Riesling |
Vinho
espesso e rico, que pode envelhecer, vai muito bem com a culinária Alemã,
pratos como chucrute, salsichas e queijo Munster. Também é recomendado para
acompanhar pratos à base curry e outros condimentos de difíceis harmonizações.
Vai muito bem com a culinária chinesa e mexicana, pois seu forte são os
condimentos de personalidade forte, pratos condimentados. A Gewurztraminer pode até mesmo ser
servida como um vinho de sobremesa.
Temperatura
de Serviço: Gewurztraminer deve ser servido a 10° C
Tempo de
Guarda: Gewurztraminer pode durar até 10 anos em suas melhores safras.
Regiões de Cultivo
Austrália
Gewürztraminer é mais notável para seu uso ocasional de
nomes antigos como Traminer Musqué e Aromatique Gentil Rosa do que a real
qualidade dos vinhos. Encontraremos a Gewürztraminers em Adelaide Hills, Eden Valley, na ilha de Tasmânia, Clare Valley, Yarra Valley e as vinhas espalhadas no Alpes australianos.
Canadá
Vinho canadense, regiões onde é cultivado, inclui a Ilha de Vancouver e do Vale Okanagan da Columbia Britânica, a Península do Niagara, e na margem norte do Lago Erie e Prince Edward County regiões
vinícolas de Ontário.
Europa
Espanha, Eslovénia, Itália, França, Áustria, Bulgária, Croácia, Hungria, Luxemburgo, Morávia, Roménia, na República Checa e Eslováquia.
França
Gewürztraminer atinge a sua melhor expressão na Alsácia, pois é a variedade de uva mais plantada dessa
região. Os Estilos de Gewurztraminer
da Alsácia é de um branco muito seco ou
ainda o estilo muito doce, O conhecido vinho de safra-tardia ou vinho de sobremesa.
Alemanha
A Alemanha tem cerca de 10 quilômetros quadrados da
variedade, mas é muito diferente do que a de seus vizinhos do outro lado do
Reno, como sugerido acima muito de seu "Gewürztraminer" é
provavelmente Traminer Vermelho. Os alemães são mais para o paladar suave, ou um
estilo relativamente seco, que tenta dominar a natural exuberância da uva.
Itália
O Traminer é nativo das encostas frias alpinas do Trentino-Alto
Adige Südtirol, no nordeste da Itália. Se o
Gewürz-mutante originou lá ou não é uma questão ainda em aberto, mas é
certamente cresceu lá, hoje ambas as uvas, rosa e verde pode ser chamada
simplesmente de Traminer. Na Itália este vinho é envelhecido em
carvalho Austríaco, em vez do tradicional carvalho Francês, mais usados para
outros vinhos italianos.
EUA
No Estados Unidos
concentra-se em Monterrey, Mendocino e Sonoma na Califórnia, encontramos também o Vale de Columbia em Washington e no Oregon. Há cultivado
em regiões sabidamente frias como em Michigan, e
nas Rhode Island, County, Oklahoma, Ohio, Pensilvânia, Kentucky, Indiana, Texas, Virginia, Maryland.
(Novo Mundo) Austrália e América do Sul
No Novo Mundo, a uva Traminer
é talvez mais bem sucedida na Nova Zelândia,
contudo existe produção dessa uva no extremo sul do Chile, na Argentina e também no Brasil.
Bem, por enquanto é isto, espero que gostem desta postagem, pois estou me sentido meio enferrujado devido ao tempo que não escrevia, sendo assim tentarei ser mais constante nessa troca de informações com este universo que tanto gosto e admiro.
Grande Abraço
Sérgio Craveiro Barros