quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Gewürztraminer.




Uma paixão por essa uva e uma história rica de detalhes nos levou a voltar a escrever e ativar novamente nosso blog, Além, claro, da motivação e persistência do amigo e Jornalista Carlos Nealdo e o inconformismo de nossa confraria devido ao nosso isolamento temporal do universo literário do vinho. Bem, neste post iremos fazer uma viagem através da Europa mais ao oriente, onde se iniciou a trajetória de uma casta ainda pouco apreciada por nós brasileiros, contudo acredito ser apenas uma questão de tempo e conhecimento. 
    

Gewürztraminer

Nossa pequena história nos levará ao Tirol, esta antiga província do Império Austríaco, dividida pelo Tratado de Saint-Germain-em-Laye. Podemos com certeza dizer que esta região é uma parte germânica da Europa, mas não é Alemanha, já que ela localiza-se entre a Áustria, Alemanha e Itália. Sua capital é a cidade de Innsbruck, na parte principal do estado do NORDTIROL, ao sul oriental. Temos ainda as outras divisões deste estado Austríaco, que são SULDTIROL, OST-TIROL e TRENTINO, sendo esta mais ao norte, com grande influência da Itália. No Tirol Austríaco, na parte oriental dessa região, encontramos os conhecidos Alpes do Tirol, que é ainda banhado pela Bacia superior do Rio Inn, cujo vale (onde se localiza Innbruck) é o eixo principal da província. Essa parte da região tirolesa, que ficou para a Áustria, mede cerca de 12.649 km2 e tem aproximadamente 594.000 habitantes. É separada da outra porção, a sudeste, em resultado da perda da parte sul da região (Tirol Meridional), que é a região dos Alpes Suíços.


Mapa do Estado do Tirol

Sua bela Capital  Innbruck - Inverno de 2010

Bem, Foi em uma pequena vila de nome Tramin, na província Bolzano, República Italiana que a Traminer – que significa "vinda de Tramin", uma variedade de uva de pele verde e que por consequência de sua origem carregou para si o nome da vila onde nasceu – que surgiu uma das cepas mais agradáveis ao desenvolvimento de vinhos brancos do mundo, mesmo assim, para muito de nós brasileiros, ainda é uma completa desconhecida, e traz um nome extremamente complicado de se pronunciar. Contudo extraordinária, potente e deliciosa na construção de vinhos brancos, bem como muito fácil de apaixonar-se.


A Gewürztraminer é uma linhagem que se adaptou muito bem ao frio, que talvez contribua para o seu rico buquê de lichia, alias a lichia compartilha com a Traminer o mesmo composto de aroma, podendo ainda traduzir aromas florais como rosas e flor de maracujá.

Lichia

 

 

Alguns estudiosos definem a Gewürztraminer como a cepa que gerou alguns clones naturais, tais como a Savagnin Blanc. Todavia, devemos perceber que outras correntes conectam seu genoma a Viogner do Vale do Rhone, que talvez seja um parente mais distante de Sauvignon Blanc.

Dentro dessa analogia, temos que observar que o Tirol foi e ainda é uma região encravada entre 03 países (Alemanha, Áustria e Itália), que se atritaram muito ao longo dos séculos, uma região estratégica de linha de frente que por milênios abrigou grandes batalhas. Provavelmente pelas razões acima não seja surpreendente que suas vinhas tenham sido dizimadas. Tanto que o vinho obtido a partir de traminer foi ser redescoberto na Alemanha, contudo com menor potencial aromático. Na verdade a traminer, que a partir do século XIX passou ser escrita de forma diferente, passou a se chamar Gewürztraminer em princípio na Alemanha. Depois, como Gewurztraminer – sem o trema nou“ – na França, ressurge com todo seu potencial justamente na conturbada fronteira entre a Alemanha e a França, na Alsácia-Lorena, hoje território Francês.
Bom, devo ainda referendar neste post que algumas videiras Alemãs podem muito bem ser confundidas como a Traminer, como exemplo, podemos citar a Savagnin Rose, que para muitos é conhecida como Red Traminer, ou também chamada de Durbacher Clevner para uns e para outros, Durbacher Klevner", que é um sinónimo Austríaco para Pinot Blanc. 
Durbacher Klevner, ainda guardando a identidade da Taminer.

A LONGA JORNADA DA TRAMINER...

(Karl) Carlos Frederico, grão-duque de Baden (Karlsruhe, 22 de novembro de 1728 — Karlsruhe, 10 de junho de 1811) foi o filho mais velho do príncipe Frederico de Baden-Durlach e de Amália de Nassau-Dietz, a filha de João Guilherme Friso, Príncipe de Orange

A história diz que em 1780 o Grão-Duque de Baden Karl Friedrich (foto)  trouxe sementes de um vinha da Chiavenna, na Itália, que fica no meio do caminho entre Tramin e Jura. Jura é uma cadeia de montanhas que chegam a cumes de 1720 m de altitude, e estão situadas ao norte dos Alpes, entre a França, Suíça e Alemanha.
Na França, ela cobre essencialmente a região Franche-Comté e se estende pela região Rhône-Alpes, a leste do departamento de Ain e ao noroeste do departamento da Saboia (chaîne de l'Epinee dent du Chat) que para os Alemães era conhecida como Cleven. (fonte: http://pt.wikipedia.org).
Heiligenstein - Alsácia

Cleven ou Klevener de Heiligenstein ou Heiligensteiner Klevener  encontra-se no entorno de Heiligenstein - Alsácia pode ter representado um posto avançado das vinhas Durbach. Como só há registros da Traminer a partir século XVI, são exatamente estes registros que demonstram que ela se espalhou do baixo Reno para a Alsácia, por meio do Palatinado1. Acredito que nesta fase deve ter havido o acréscimo da palavra Gewürz (pimenta, ou picante) ao seu nome, presumivelmente quando ocorreu uma de suas mutações. O nome Gewurztraminer foi usado pela primeira vez na Alsácia, em 1870 - sem o trema. Em nossa pesquisa não consegui encontrar uma explicação clara para esta mudança de nome, nos parece que tudo foi uma grande coincidência temporal, pois a mutação musqué aconteceu logo após a chegada do grande epidemia da filoxera. Acredito que esta mutação foi uma determinante na sobrevivência da espécie primitiva da Traminer e também uma tentativa de criar um enxerto de filoxera resistentes a grande epidemia de 1852, quando todo o continente Europeu teve que replantar suas vinhas.
1Eleitorado do Palatinato ou Condado Palatino do Reno (em alemão: Kurpfalz), um Estado histórico do Sacro Império Romano-Germânico, incluindo:

Assim, com o passar dos anos, este veio a se tornar o mais típico dos vinhos da Alsácia. Como já falamos anteriormente, Gewürz significa "picante" em alemão. É a principal característica da Gewurztraminer. Recapitulando ainda, a Gewurztraminer foi cultivada na Alsácia por volta do final do século 18. Estas cepas agora cobrem cerca de 20% dos vinhedos da região. Gewurztraminer também substituiu a uva chamada Klevener ou Savagnin. Hoje em dia os vinhos Klevener só podem ser encontrados na aldeia de Heiligenstein e ao redor. Klevener produz um vinho branco seco com leve sabor picante, mas bem menos aromáticos que Gewurztraminer. Lembrando que este vinho tem melhor potencial quando bebido jovem.

Alsácia foi onde a Gewürztraminer deu os melhores resultados, mas encontramos produção desta uva em todos os continentes do planeta, inclusive na América do Sul, sendo plantada no Chile, Argentina e também no Brasil. Produz sempre um vinho frutado, delicioso e com aromas fortes, um buquê muito perfumado. Gewurztraminer é mais doce que o Riesling, que é um vinho branco mais seco.
Uva Riesling

Vinho espesso e rico, que pode envelhecer, vai muito bem com a culinária Alemã, pratos como chucrute, salsichas e queijo Munster. Também é recomendado para acompanhar pratos à base curry e outros condimentos de difíceis harmonizações. Vai muito bem com a culinária chinesa e mexicana, pois seu forte são os condimentos de personalidade forte, pratos condimentados. A Gewurztraminer pode até mesmo ser servida como um vinho de sobremesa.

Temperatura de Serviço: Gewurztraminer deve ser servido a 10° C

Tempo de Guarda: Gewurztraminer pode durar até 10 anos em suas melhores safras.


Regiões de Cultivo

 

Austrália

Gewürztraminer é mais notável para seu uso ocasional de nomes antigos como Traminer Musqué e Aromatique Gentil Rosa do que a real qualidade dos vinhos.  Encontraremos a Gewürztraminers em Adelaide HillsEden Valley, na ilha de TasmâniaClare ValleyYarra Valley e as vinhas espalhadas no Alpes australianos.

 

Canadá

Vinho canadense, regiões onde é cultivado, inclui a Ilha de Vancouver e do Vale Okanagan da Columbia Britânica, a Península do Niagara, e na margem norte do Lago Erie e Prince Edward County regiões vinícolas de Ontário.

Europa

 

França

Gewürztraminer atinge a sua melhor expressão na Alsácia, pois é a variedade de uva mais plantada dessa região.  Os Estilos de Gewurztraminer da Alsácia é de um branco muito seco ou ainda o estilo muito doce, O conhecido vinho de safra-tardia ou  vinho de sobremesa. 

 

Alemanha

A Alemanha tem cerca de 10 quilômetros quadrados da variedade, mas é muito diferente do que a de seus vizinhos do outro lado do Reno, como sugerido acima muito de seu "Gewürztraminer" é provavelmente Traminer Vermelho. Os alemães são mais para o paladar suave, ou um estilo relativamente seco, que tenta dominar a natural exuberância da uva.

Itália

O Traminer é nativo das encostas frias alpinas do Trentino-Alto Adige Südtirol, no nordeste da Itália. Se o Gewürz-mutante originou lá ou não é uma questão ainda em aberto, mas é certamente cresceu lá, hoje ambas as uvas, rosa e verde pode ser chamada simplesmente de Traminer. Na Itália este vinho é envelhecido em carvalho Austríaco, em vez do tradicional carvalho Francês, mais usados ​​para outros vinhos italianos.

 

EUA

No Estados Unidos  concentra-se em Monterrey, Mendocino e Sonoma na Califórnia, encontramos também o Vale de Columbia em Washington e no Oregon. Há cultivado em regiões sabidamente frias como em Michigan, e nas  Rhode Island, County, OklahomaOhioPensilvâniaKentuckyIndianaTexasVirginiaMaryland.

 

(Novo Mundo) Austrália e América do Sul

No Novo Mundo, a uva Traminer é talvez mais bem sucedida na Nova Zelândia, contudo existe produção dessa uva  no extremo sul do Chile, na Argentina e também no Brasil.

Bem, por enquanto é isto, espero que gostem desta postagem, pois estou me sentido meio enferrujado devido ao tempo que não escrevia, sendo assim tentarei ser mais constante nessa troca de informações com este universo que tanto gosto e admiro.

Grande Abraço

Sérgio Craveiro Barros